Imagine urn francês chegondo ao Brasil pouco depois da Independência. Não deixe de considerar que o Brasil dessa época era urn dos lugares que mais fascinavam a imaginação dos europeus cultos: havia poucos anos aberto a estrangeiros; era aindo pouquissimo descrito, lugar de futuro e de esperanças onde a imaginação européia, à falto de melhores descrições, via uma natureza fantástica. Pais de riquezas oparentemente inesgotáveis, o que Ihe garontia o futuro era, conservadoramente, governado por uma tradicional dinastia européia. Considere mais ainda que nosso frances tinho cerco de 30 anos, boa formação medica e de naturalista, experiencia com publicações e muitos inquietudes politicos e intelectuois. Considere, finalmente, que ele tinha em dose excepcional a curiosido de humboldtiona que marcava a juventude daqueles tempos de romantismo tambem jovem e de iluminismo idealista. o que ele poderia fazer de melhor neste novo mundo? Explicar o que via. E foi o que fez. Metodicamente, ano após ano, anotou as informoções mais díspares, do enfadonho registro diaria da temperatura no Rio de Janeiro a dramática descrição das 24 horas de agonia de urn suposto leproso que se deixou morder por uma cascavel, convencido de que o veneno seria remédio para seu mal. Chuvas, cometas, temperatura, meteoros aquosos; regime alimentar, comportamentos sexuais, hábitos da população; legislação sanitária, funcionamento de hospitais, curandeiros e charlotões; sintomas e terapeuticas das principais doenças; vida dos indios, dos negros, dos mineiros - tudo encontra lugar neste livro surpreendentemente despido de preconceitos, verdadeira encilopédia do Brasil naquela primeira metade do seculo XIX. E esta abundância de detalhes, onde, como urn notório, inventário a exaustão a vida de brasileiros e estrangeiros, que faz o fascínio deste livro. Como verá leitor, e mais do que urn tratado de matéria médica, mais do que urn relato de viajantes preocupados em descrever o exótico, mais do que uma história do país sob o ponto de visto do outro. Do Clima e das Doenças do Brasil' um riquissimo relato sobre a sociedade brasileira de sua época, mas seu maior enconto, a meu ver, está no fato de ser construido em tomo de um sistema de erros: por se apoiar em uma visão excessivamente abrangente sobre a curiosidades da doença, Xavier Sigoud noo hesitu dionte de quolquer foto, busca tudo descrever e nada deixar de fora, organizando tois soberes de maneiro original, produzindo um livro diante do qual, 00 fim de coda capitulo, 0 leitor se va diante de uma perguntu: que now explica~oo ou descri~ao Ihe ser6 apresentoda? Xavier Sigaud foi um viajante est6tico. Emboro em seu relato noo se encontre nenhuma descri~o de viagem paro foro do Corte, lan~ou mao de uma enorme abundoncia de livros e relatos de viogem que compensam, no tempo e no espa~o, sua baixo mobilidade. E aqui devemos agrodecer as organizadoros desta edi~o, que, em suos exaustiws notus, nos permitem avaliar a minucia com que Sigaud se dedicou a explicor esta terra e seu pova. S6 temos de agrodecer a Coso de Oswoldo Cruz e a sua equipe de pesquisa por mais esto obro. Sergio Goes de Paula doutor em Economio, pesquisodor do Fundo~ Oswoldo Cruz (FioClUZ), ouror de Iivros, COS e sites sobre economio do soude e história do Brasil. Publica documentos, fontes e obras fundamentais para a história e historiografia das ciências, da medicina e da saúde, sempre organizados, introduzidos e comentados por especialistas da área. De vocação interdisciplinar, a coleção História e Saúde quer fortalecer o campo da história das ciências e da saúde em nosso país, promovendo investigações que contribuam para a compreensão do presente e do passado e a incorporação de metodologia em consonância com o soporo renovador da historiografia contemporânea. Os editores responsáveis e autores convidam o leitor a participar do fértil diálogo que este domínio de Clio mantém com áreas vizinhas das ciências humanas e com diferentes ciências da natureza, cada vez mais sensíveis à reflesão historiográfica.