O que o Brasil deseja obter através de suas relações com o continente africano: prestígio diplomático para conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, apoiar solidariamente o desenvolvimento econômico-social ou somente realizar negócios lucrativos? Essas três dimensões são excludentes? O Brasil e a África, de certa forma, ingressaram simultânea e articuladamente no sistema mundial, o que criou fortes identidades históricas e culturais. Todavia, língua, cultura e tradições comuns não são suficientes para que se desenvolvam relações de tipo moderno. Todo discurso culturalista busca, em essência, legitimar interna e externamente as ações de governo. A relação do Brasil com o continente africano conheceu um aprofundamento desde o início dos anos 1960, mesmo com fases de maior ou menor intensidade. Foram a industrialização brasileira e as independências africanas que criaram a nova realidade. Não voltou a haver qualquer interrupção, como no século XIX, e o eixo econômico tem sido o essencial (junto com a cooperação técnica), pois constitui a base sustentável sobre a qual se constroem as relações entre as nações. Desde a década de 1970, a relação entre Brasil e África nunca mais foi interrompida e se tornou intensa e complexa no século XXI.