Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, nasceu sob chumbo grosso. Retrato ácido da sociedade brasileira na década de 1960, atemorizada pela ditadura militar, a censura, a repressão, os esquadrões da morte, o livro, concluído em 1969, foi recusado por quatro editoras. Caso único na história da literatura brasileira, teve a sua primeira edição em italiano, em 1974, sendo lançado no Brasil apenas no ano seguinte. Breve momento de relax. Em 1976, voltava a ser proibido pela censura, só se tornando acessível ao público três anos depois.Contando com sarcasmo e mau humor uma história de violência extrema, numa sociedade dominada pelo vazio existencial, as aberrações sexuais e de comportamento, a corrupção, o ódio, a mentira, Zero inovava também o romance brasileiro, com um texto fragmentado, misturando slogans publicitários, notas de pé de página, reprodução fac-similar de páginas de jornal, depoimento, texto jornalístico, estilo de história em quadrinhos, a palavra dura de um narrador em primeira pessoa.Não há nenhuma esperança, todos parecem condenados ao desespero, vivendo num clima de sufocante pessimismo, introduzido logo na epígrafe do livro, nos versos do poeta português Alexandre O'Neill: "O medo vai ter tudo/ quase tudo/ e cada um por seu caminho/ havemos todos de chegar/ quase todos/ a ratos/ Sim/ a ratos".Clássico da literatura brasileira, consagrado pela crítica, prestigiado pelo público, traduzido em oito idiomas, documento palpitante de uma fase de angústia e desespero da história brasileira, Zero foi eleito um dos cem melhores romances do século XX.A presente edição, inteiramente modernizada e redesenhada, inclui, graças aos modernos recursos da informática, ilustrações suprimidas na primeira edição.