Penso nos riscos que uma obra estabelece para si ao apresentar, como titulo, uma marca temporal tao complexa quanto se tivera sido nomeada como hoje ou amanha . O ontem, como uma instancia resistente ao desmonte, nao se ajusta totalmente a categoria de passado remoto, memorial; porem, e a fracao mais imediata do cronos a se distinguir do agora, do presente instantaneo. Um momento recente, talvez ainda com frescor de novo que, no entanto, apos outras 24 horas, sera amalgamado pelo transcorrer do tempo de tal modo que nem como ontem podera ser mais chamado. E nesse tempo-lugar, nesse ambidestro condicionante da experiencia que o poeta se posiciona: no (in)exato e primordial instante no qual o hoje se liquida e o passado institui a sua vinganca sobre os individuos.