O escuro não medimos por fita métrica, por palmos, por passos, por computador e, é claro, nunca de olho. No máximo, caminhamos às cegas à procura, esquecemos o quanto andamos, voltamos atrás, encontramos um obstáculo. A empreitada é inútil. O breu é sempre infinito e não há um parâmetro que diga se acaba cinco centímetros além dos nossos narizes, se dura mais um quilômetro ou se está mesmo no corpo. É esse o espaço investigado neste livro: os travesseiros não boiam afundam no escuro/é noite de ondas negras/pela fresta água entra pelas veias íntimas do casco. A tarefa não é só inútil, é também impossível. Mas Constança Guimarães lança a hipótese e escreve com as pálpebras apertadas, como se fosse deparar-se com uma parede a qualquer momento. Se fosse possível, essa seria uma investigação sobre o susto, sobre o medo, sobre aquilo que arranha, que faz sons insuportáveis ao nosso corpo, sobre o desejo que atinge a beira e se transforma em outra coisa. Se fosse possível medir (...)