Nesta que é sua obra mais importante, Arthur Schnitzler lança mão do revolucionário recurso do monólogo interior para nos apresentar seu mais desconcertante personagem: o atormentado tenente Gustl. Na saída de um concerto o tenente é ofendido por um padeiro e sente a obrigação moral de se suicidar por não tê-lo desafiado a um duelo. Durante a fatídica noite, Gustl perambula por Viena tomado por seus mais íntimos temores repassando a vida medíocre e vazia que levara até então. Pouco antes de finalmente disparar o revólver contra si, no entanto, ele recebe uma inesperada notícia...Dramaturgo, contista, ensaísta, novelista e romancista, foi com o talento para dissecar o lado mais ambíguo do ser humano que Arthur Schnitzler se tornou um dos mais importantes autores de língua alemã. Em O TENENTE GUSTL, seu livro mais conhecido — parte da Coleção As Grandes Obras de Arthur Schnitzler, organizada e traduzida por Marcelo Backes —, ele cria o primeiro monólogo interior em seu idioma. Um romance que inspirou o fluxo de consciência de escritores como James Joyce. Gustl, um oficial em treinamento no exército imperial austro-húngaro, briga com um padeiro na chapelaria do teatro, quando atendem a um concerto. O padeiro não aceita a rudeza de Gustl e, entre palavras grosseiras, pega sua espada e a parte ao meio. E aí se inicia a agonia do oficial. Envergonhado e humilhado, crê lhe restar apenas o suicídio. Enquanto vislumbra o fim, pensa em basicamente três coisas: se alguém ouviu a discussão, se se tornará chacota em Viena e se sobreviveria ao insulto. O rapaz vaga pela capital do Império, pensando em como se matar, rejeitando todo argumento contrário ao fim dramático. Em seu monólogo, apresenta um catálogo de pensamentos, preconceitos e valores arraigados a sua classe. E um absurdo senso de honra. Ao mesmo tempo, exibe um lado mesquinho: a objetificação das mulheres, o antisemitismo, o militarismo crescente, a luta de classes, o privilégio. O epítome de uma época ao mesmo tempo grandiosa e decadente. A valorização do indivíduo, do lazer e do consumo, costuradas pelo fio do talento de Schnitzler, funciona aqui como um presságio para a sociedade moderna. Seu paralelo com a Viena de Schnitzler está no universo de conexões perdidas Na miséria e fascinação, os brilhos, falsos ou não, da condição humana. As elocubrações de Gustl em sua noite mascaram as impressões do autor sobre a sociedade vienense do fim do século XIX.