A origem da arte comunicacional de que trata este livro se situa no contexto das vanguardas européias do início do século XX. A partir da ruptura com a Igreja, com a Academia e com os paradigmas hegemonicamente nelas forjados, a arte ocidental busca um novo espaço de legitimação para suas propostas e posicionamentos. Encontra-o nos meios de comunicação, que à época começavam a ser estudados e percebidos como forças autuantes na transformação de uma série de valores culturais. Sensíveis a essas transformações, muitos artistas, especialmente os pintores, passam a ocupar esse espaço midiático, tornam-se profícuos escritores (de cartas, artigos, livros, revistas e manifestos) e desenvolvem eles mesmos, de modo independente da crítica, teorias sintetizadoras de suas práticas artísticas. A interpretação desse material nos mostra que a partir de então se abre um novo leque de possibilidades de criação artística, que se dá em pelo menos quatro dimensões distintas e interdependentes: a concepção, a realização, a difusão e a fruição da arte. Um pluralismo ímpar é assim conquistado. Embora, hoje, isso já não seja exatamente uma novidade, a apresentação dessa conquista pela voz dos próprios artistas precisa ser reafirmada a fim de que não se reestabeleçam os valores excludentes e preconceituosos de outrora. Constrói-se assim uma compreensão da arte como um jogo de relações e de conexões únicas, múltiplas, livres ou, simplesmente, como algo essencialmente comunicacional, onde a comunicação transcende a discursividade para alçar novos sentidos.