Na Floresta Atlântica do Vale do Ribeira, transpondo-se a Serra dos Itatins, o olhar abre-se para a planície fluvial do Una do Prelado até o mar. Nesta paisagem única do litoral paulista, que é preservada pela Estação Ecológica de Juréia-Itatins, sobrevive a cultura caiçara há séculos. A criação da EEJI assegurou às futuras gerações o que ainda resta da Floresta Atlântica, mas trouxe conflitos por ter objetivos às vezes antagônicos àquela cultura. Daí surgem várias perguntas. Os caiçaras podem permanecer em uma estação ecológica? Comunidades tradicionais podem continuar coexistindo em condições equilibradas com o ambiente? A julgar pela retórica em torno dessas questões debatidas há décadas, este livro poderia parecer um reexame extemporâneo. Mas, neste livro procura-se mostrar que a origem e a dinâmica do uso da terra têm permitido a sobrevivência dessas populações na Floresta Atlântica, pelo saber secular que inclui a adoção de práticas conservacionistas. A luta pela preservação da floresta, objetivo da EEJI, talvez só possa ter resultado pela conjunção necessária entre sua experiência e o conhecimento de quem nela vive. Perguntem a eles, aos caiçaras.