Renato Ribeiro Pompeu, campineiro de 35 anos, jornalista de linhagem - filho, irmão, sobrinho e parente de em outros graus de jornalistas - penetra agora com passo seguro na nobre senda da literatura. Jeitoso, exato, elegante com as palavras, ele lida com os casos, histórias, conceitos e personagens que se cruzam em dois planos de uma mesma realidade material. Real por dentro e real por fora. Quatro-Olhos é uma obra de ficção. Mas a intensidade dos sentimentos e das idéias que nela se encontram é sem dúvida coisa vivida e vista com atenção, observada com cuidado. Às vezes, da obra se tem a impressão de ver surgir o própriio autor, cercado de memórias dos tempos em que frequentou, sem cmpletar, o curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia da USP nos seus idos de rua Maria Antônia, ou quando ajudou a criar um novo estilo de jornalismo brasileiro na Folha de S. Paulo e nos primórdios do Jornal da Tarde e revista Veja. Ou ainda da ocasião em que lhe foi dado afastar-se da realidade exterior mais geral para conviver intensamente com as questões do espírito e as profundezas da alma humana. Mas não se trata de um livro de memórias. Mais do que tudo, talvez, Quatro-Olhos é um momento genuíno de literatura brasileira, descendente direto e companheiro à altura de suas mais talentosas manifestações. É também - coisa rara - uma obra dotada de profunda reflexão sobre si própria. E fala de uma época recente, ainda atual, que um romancista sem formação jornalística dificilmente se atreveria a enfrentar.