Entrem nesta roda Cronistas em dueto. Uma boa ideia e uma feliz combinação. Se os cronistas em contraponto forem Flávio José Cardozo e Jair Francisco Hamms, que soem as trombetas, pois aí vem coisa boa, de primeira. Recomendo ao leitor que mergulhe logo na leitura das crônicas de um e outro. No terreiro deste Batuque bem temperado, a roda não se abre para os atabaques e as umbigadas, mas para que dois dos melhores escritores catarinenses do nosso tempo mostrem-nos como se dança o minueto no meio de uma batalha, conhecida metáfora usada por Machado de Assis, certa feita, para definir a crônica. Flávio e Jair são mestres consumados nesta escrita ligeira e esperta, que parece um bate-papo amistoso no balcão do cafezinho. Eles nos oferecem uma estimulante dose dupla de talento e criatividade nas quarenta crônicas aqui reunidas vinte de um, vinte de outro. A crônica busca os seus temas preferenciais no cotidiano, nos pequenos dramas e comédias da vida real. Há que ter sensibilidade maiúscula e olhar arguto para identificá-los e catá-los no chão do dia a dia. Mas não é só. Sob o disfarce de conversa descontraída e sob a aparente simplicidade do gênero, esconde-se a sua maior dificuldade. Ser simples é muito complicado, como sabeis. Os bons cronistas são aqueles que conseguem conferir aos seus temas um significado maior como representação do humano e da nossa história comum, sem perder o jeitinho de quem nada quer além de divertir o leitor e fazer-lhe alguns afagos. Entendo, também, que os melhores cultores do gênero são aqueles que conseguem traduzir a voz e a sabedoria do povo nas ruas, nos chamam a atenção para o que não vemos, e expressam, com eloquência e leveza, com humor e compaixão, em delicada alquimia, tanto a nossa indignação quanto a nossa esperança. Flávio e Jair. Jair e Flávio. Deste dueto de virtuoses, emerge a crônica com os saborosos temperos e os perfumes da terra amada. Quem entrar neste batuque em tão boa companhia dele sairá gratificado e de alma lavada, pois terá convivido com dois escritores de proa que se inserem na melhor tradição da crônica brasileira. Eis textos de impecável talhe, que fluem como a água límpida de um regato a correr sobre leito de seixos. Eles nos proporcionam momentos de refrigério e de encantamento. A grande arte da narrativa transparece em cada uma dessas quarenta crônicas. Entrem na roda para conferir. Mergulhem no Poço da noite com o Flávio, façam uma Viagem a lugares comuns na companhia do Jair, e, com eles, dancem jubilosos na roda do Batuque bem temperado. Mário Pereira