transitoriedade é a palavra que bem definia arthur porque assim se sentia: um ser passando de uma forma para outra. via-se como um peixe-voador que havia nascido quando principiava a sair d''água para seu salto e que, momentos depois cairia novamente na inconsciência quando voltasse a tocar na superfície límpida, calma, indiferente de um mar infinito chamado universo. sabia que nesta reentrada por mais que se agitasse apenas provocaria alguns respingos que logo desapareceriam. sabia que era nada e tudo ao mesmo tempo, pois era de arthurs, pedras, árvores, água e tudo mais que era formado o todo, peças intercambiáveis construindo ao acaso. e o acaso dotara arthur de uma qualidade duvidosa, a de, neste salto milimétrico e efêmero, fazer uso de uma consciência transitória, ver-se, sentir-se, observar. era um pobre ser humano, a mais inútil das criaturas numa realidade igualmente inútil.