Não é nova a busca de apartamento dos estratos sociais mais favorecidos. A novidade pós­moderna está na negação da utopia modernista, que visava à transformação do externo pela força de uma nova linguagem espacial, baseada na tecnologia e numa organização social de novo tipo - em tese, mais solidária e igualitária. O fracasso (ou derrota?) dessa perspectiva acarretou na emergência das aglomerações pós­iluministas, que passaram a comportar o que o crítico literário Frederic Jameson denominou de "cidades­totais" ­ espaços fechados de convivência congêneres à lógica cultural do capitalismo tardio, produtora radical de conformidade e conformismo. Hotéis, shoppings centers e condomínios de luxo são os sintomas mais visíveis desse fenômeno que, segundo o citado marxista norte­americano, colaboram para o esmorecimento da ideia de espaços e homens públicos, em prol da reificação do desejo­fetiche de territórios e seres que se querem exclusivamente privados. Em espaços desse tipo é que ocorre a junção de estruturas mentais e concretas que produzem a subjetividade contemporânea, evidenciadas não apenas nos citados símbolos da arquitetura pós­moderna, mas também nas opções políticas privatistas engendradas para enfrentar os déficits coletivos de segurança, saúde e educação. Como afirma o filósofo ítalo­brasileiro Giovanni Semeraro, este ensaio de Marcos Marques de Oliveira, "sem muitos rodeios", leva o leitor a entender a esquizofrenia.