Em suas aulas de Literatura Inglesa na Universidade de Buenos Aires, Jorge Luis Borges lançava mão do conto A história de Rasselas, Príncipe da Abissínia, de Samuel Johnson, para falar da busca da felicidade, das paixões do homem, da brevidade da vida humana, das vicissitudes do destino, dos nossos vícios e virtudes e da esperança que temos na imortalidade. Ao ler o texto teatral Sábias palavras de um Chihuahua, de Paola Prestes, não pude deixar de lembrar desse conto, onde fica clara a evanescência das nossas ilusões e a inexorável passagem do tempo. Tanto a protagonista da peça, a roteirista Melanie, como sua vizinha, a viúva dona Kiki, buscam dar um sentido às suas existências em meio a transformações pessoais, políticas e sociais. Os diálogos entre as duas revelam não só diferenças, como o vácuo geracional, mas pontos comuns, como uma intensa inquietude perpassada de angústia e solidão, e a perplexidade diante da inesperada ausência de amor.