Retratos falantes livro com fotos de gente do povo tiradas por Paulo Fridman desde março de 1999 é ousado ao trazer duas fala: a do próprio retrato, que sempre diz algo do fotografado, e a fala escrita, criação dos personagens retratados, autêntico desafio para quem como é este caso não preparou antes um script, um rascunho. Por isso mesmo o livro transpira naturalidade, um à-vontade, criando campo fácil para a emoção e o fruir estético de quem olha com atenção esses 64 retratos. A inteligente introdução de Arnaldo Antunes revela deslumbramento:Todo mundo aqui é bonito. Nestes retratos falantes até quem é feio é bonito. Mas o essencial fator da beleza e do poder de convencimento estético dessas fotos provém de algo mais que as emoldura, qual seja a naturalidade ou certa inocência, como assinala ainda o apresentador: Mais que tudo, porém, a beleza aqui parece provir da inocência com que as pessoas se entregam à lentes de Paulo Fridman. Sem ostentação, sem máscara. A partir dessa ótica, já é notável a foto da menina de sete anos, (pág.22), emoldurada por dois desenhos, em cujo rosto o fotógrafo parece ter captado a soma do que ela conseguiu ser até seus sete anos e tudo de luminoso que ela espera ser no futuro. Ou então a da página 62, de uma senhora de 80 anos, catadora de latinhas de alumínio, malvestida e suja, que surpreendeu o fotógrafo: texto rebuscado, português impecável. Tratava-se de Maria Augusta advogada, ex-professora!. Todos os fotografados compuseram respostas para estas três questões: quem é você? e o futuro do Brasil? qual o seu sonho? Vale verificar o resultado. Como o da foto 28, confessional e de áspera brevidade: Tenho 59 anos. Sou cozinheira. Retratos falantes revela-se, então, um importante e original documento etnográfico, com o lembrete de que, a despeito de tudo, é ainda possível estar de bem com a vida. E que a ironia existe para ser saboreada, tal como o fazem as jovens da foto 80, exibindo um perfeito sorriso, grafaram: Olho por [...]