Nietzsche e os gregos: arte, memória e educação traz à tona as reflexões surgidas no V Simpósio Internacional Assim falou Nietzsche. O evento, realizado em 2004 na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), celebrou os 160 anos do nascimento de Nietzsche. Foi um momento oportuno para propor um retorno às fontes do pensamento nietzschiano. A influência dos helenos foi decisiva em sua obra e em sua vida. Na filosofia grega, ele encontrou um modelo de pensamento que não dissocia a reflexão teórica da existência concreta. Neste livro pretendemos resgatar esse páthos vital que Nietzsche partilha com os gregos, abordando sobretudo questões sobre a arte, a memória e a educação. Lembremos que a arte, particularmente a tragédia antiga, foi, para Nietzsche, um meio expressivo privilegiado para refletir e intensificar a vida. A memória, por sua vez, não só possibilita retomar o passado, individual ou coletivo, mas abre-se ao futuro, estimulando permanentemente novas criações. Já a educação, inspirada nesses grandes pensadores helenos, permitirá o surgimento de filósofos-educadores e legisladores que, ultrapassando a decadência e o niilismo que domina a cultura ocidental, levarão a cabo a transvaloração de todos os valores. Além disso, a inspiração helênica na filosofia nietzschiana torna possível pensar outras questões ainda mais abrangentes da modernidade e da contemporaneidade. Nietzsche e os gregos apresenta-se, assim, como uma proposta mais ampla que nos leva a debater a questão Nietzsche e nosso tempo, a refletir sobre nossa atualidade, nossos dias. Este livro almeja resgatar o ousado espírito antidogmático que Nietzsche cultuou, sob a inspiração desses filósofos antigos, mestres na arte de pensar e de viver. Nietzsche, como os helenos, quis que a filosofia arejasse a vida, que o conhecimento não ficasse restrito aos profiláticos gabinetes acadêmicos. O filósofo alemão, inspirado nos gregos, tentou fazer da vida uma incessante criação, jamais permitindo que a precisão do pensar limitasse a expansão do viver. Ele conclamou a um pensar celebratório, a uma filosofia fiel à vida. Esperamos que esse espírito antidogmático e celebratório anime as reflexões deste livro, que o rigor dos pensamentos esteja inspirado no páthos de afirmação irrestrita da existência. Os organizadores CONTRACAPA Oh, esses gregos! Eles entendiam do viver! Para isto é necessário permanecer valentemente na superfície, na dobra, na pele, adorar a aparência, acreditar em formas, em tons, em palavras, em todo o Olimpo da aparência! Esses gregos eram superficiais por profundidade! E não é precisamente a isso que retornamos, nós, temerários do espírito, que escalamos o mais elevado e perigoso pico do pensamento atual e de lá olhamos em torno, nós, que de lá olhamos para baixo? Não somos precisamente nisso gregos? Adoradores das formas, dos tons, das palavras? E precisamente por isso artistas? (NIETZSCHE. A gaia ciência, prólogo, 4)