O repertório musical identificado como bossa nova, produzido em fins dos anos de 1950 e início dos 60, teve grande projeção nos mercados fonográficos nacional e internacional. As características musicais e poéticas das composições da geração de Chega de Saudade refletiam tanto as expectativas de modernização da sociedade brasileira, alimentada por segmentos da classe média, como o debate estético-ideológico em torno da eventual presença de elementos de gêneros estrangeiros na nossa música popular. A famosa querela da influência do jazz, que mobilizou discussões calorosas entre críticos e músicos naqueles anos, se estendeu pelas décadas seguintes. Esta pesquisa, que resultou no livro Estamos Aí, foi, de certo modo, motivada por essa questão. Porém, não se limitou ao simples posicionamento valorativo acerca da legitimidade ou não da opção dos músicos de incorporar procedimentos e traços estilísticos do jazz às suas composições. Nossa preocupação foi demonstrar, por meio do confronto entre discursos e análises musicais, que o fenômeno Bossa Nova é mais heterogêneo, complexo e profundo do que geralmente se imagina.