A população que constitui os grupos de Educação de Jovens e Adultos é, por sua natureza, extremamente heterogênea. Adolescentes, jovens, adultos e idosos convivem nas salas de EJA, oriundos de diferentes lugares, com experiências pessoais e profissionais múltiplas e conhecimentos de várias naturezas. Diz Juçara Benvenuti que "são tantas as diferenças que se torna difícil ignorar esse fato, mas que a escola pode ser um espaço rico de aprendizagem se acolher esses vários saberes dos alunos na sua vida diária". Tomando por embasamento teórico de seus estudos a educação popular de Paulo Freire, a teoria crítica do currículo de Gimeno Sacristán, estudiosos de literatura e letramento, como Wolfgang Iser, André Jolles, Shirley Brice Heath, Brian Street, Rildo Cosson, entre outros, a autora fundamenta a importância de aproximar o ensino de literatura da realidade dos alunos da EJA para despertar-lhes o prazer da leitura. Mas vai muito além da discussão teórica. Como docente da EJA, Ensino Médio, ela relata seus próprios procedimentos didáticos em literatura, com base nos quais constitui uma interessante proposta para três semestres de curso. Constituída por atividades que partem das formas mais simples da oralidade e vão aumentando o nível de exigência de interpretação dos textos, ela sugere leituras de gêneros variados e maneiras de incentivar os alunos, todo o tempo, a participar de discussões com os colegas e a compartilhar com eles e a comunidade suas produções escritas. Pelo confronto entre o saber popular e o erudito, escreve a autora, pode-se ressignificar o ensino da literatura, oferecendo a esses alunos instrumentos para atuação consciente na sociedade letrada em que vivem, valorizando os saberes não escolarizados que já possuem.