Compilando artigos e conferências escritos entre 1943 e 1944 por Oswald de Andrade, PONTA DE LANÇA é um retrato dos ideários políticos e estéticos de um dos líderes da Semana de Arte Moderna e do movimento modernista. O livro. De todos os eventos ocorridos na cultura nacional durante o século XX, poucos tiveram tanta importância quanto a Semana de Arte Moderna de 1922. Nela, intelectuais do quilate de Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Anita Malfatti e Oswald de Andrade trouxeram sua arte à luz da opinião pública, questionando a estética vigente na época, importadora dos padrões europeus, portanto sem uma identidade que pudesse ser classificada como genuinamente brasileira. Na divulgação de seus ideais, porém, de todos os modernistas nenhum se valeu da imprensa de forma tão polêmica como Oswald de Andrade. Jornalista famoso pelo estilo nervoso e de críticas ácidas, Oswald foi colaborador de diversos periódicos. Ponta de lança é uma compilação que reúne os artigos publicados nos jornais Folha da Manhã, O Estado de S. Paulo e Diário de S. Paulo, além de conferências escritas por ele entre os anos de 1943 e 1944. Na obra encontram-se documentos que permitem ao leitor conhecer um pouco mais o ideário de seu autor sobre diversos aspectos não só da cultura, como também da política brasileira. Oswald abre o volume chamando para a arena da polêmica literária antigos desafetos: Monteiro Lobato, Léo Vaz e Cassiano Ricardo. Os dois primeiros criticaram duramente a Semana de 22, e o último optou pela direita no momento em que os modernistas se encaminhavam para a esquerda. Era hora de reavaliar o passado tumultuado e desferir novos golpes nos adversários. No quarto artigo, "Carta a uma torcida", é a vez de José Lins do Rego e Otto Maria Carpeaux, cujas críticas ao "romance proletário" fizeram com que se tornassem inimigos de Oswald. Se até aqui prevalece em tom de correspondência nos textos, em "Destino da técnica" Oswald opta pelo diálogo. Como o próprio título já enuncia, neste ensaio o cronista discursa sobre a era da máquina, em que o homem deseja se libertar da natureza pela técnica. A mesma conversa fluida toma forma em "Sobre o Romance" e "Do teatro, que é bom...", em que a literatura e as artes cênicas vão para a berlinda. Da interpretação para a pintura, há espaço mesmo para a neutralidade, como comprova a conferência "Aspectos da pintura através de Marco Zero", em que Oswald não toma partido nem dos vanguardistas, nem dos defensores da arte social. Obviamente, uma reflexão sobre a trajetória do modernismo e sua participação no movimento não poderia ficar de fora, como se pode verificar em "O caminho percorrido". Escritor prolífico, Oswald de Andrade refletiu sobre a identidade brasileira com grande profundidade. Isso lhe permitiu vislumbrar alguns rumos que nosso país tomaria e elogiar nossa tolerância étnica, além de colaborar para a sedimentação de uma arte própria e original. Algo de sua genialidade pode ser conferido nos artigos e conferências reunidos em Ponta de lança , obra fundamental para que entendamos mais sobre o Brasil do último século.