A partir de referenciais históricos, Marianna Monteiro investiga os processos formativos das danças populares do país, entre as quais o congo e o boi-bumbá, e propõe um novo olhar tanto no que diz respeito às suas características como nas relações entre cultura erudita e popular. Sua pesquisa procura compreender o universo das danças sem ater-se ao cânone europeu da dança teatral, que se adapta mal às danças populares brasileiras, e interpreta os grandes conjuntos de manifestações populares no interior dos processos ideológicos que acompanharam a constituição e o fortalecimento do Estado moderno português. As expressões cênicas populares deixam de ser vistas como resquícios de fenômenos primitivos ou arcaicos e passam a ser percebidas no contexto urbano setecentista, em que se destacam os intervaleiros cômicos das touradas, papéis desempenhados por atores negros, que são aqui confrontados com os palhaços negros das danças dramáticas brasileiras atuais. No prefácio, Walnice Nogueira Galvão, professora de Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo, ressalta a força e consistência da pesquisa: "a iluminação que resulta desta leitura é um prêmio para aqueles que se regozijam no desafio ao estabelecido e no pensamento inovador".