Livros são cartas dirigidas a amigos - observa Peter Sloterdijk - apenas mais longas. Pulsação ética do compartilhamento pela magia da escrita. O emissor-leitor ideal busca o ideal do emissor-leitor para não ficar capturado por manias, repetições. O leitor-amigo sabe bem e de antemão do que trata o livro: a aproximação da história com a história que se tem. Nós, cartógrafos do desejo, respeitamos toda forma de resistência e usamos a astúcia para armadilhas e sonhos. Os sonhos como o conhecimento são da ordem do imaginário, cartografou Lacan. Então, leitor-amigo, a meta de Lacaneando não é o conhecimento, é o saber da relação do sujeito com a ordem simbólica, o mundo humanista das palavras como traços de aproximação. Inconsciente é outro nome do saber que não sabemos que temos, desconhecido. Mas não há como chegar ao saber sem o conhecimento, ainda que cada um de nós saiba que, como sujeitos, nunca nos conheceremos completamente. O ato de escrever é simbólico e só pode ser atribuído a sujeitos humanos. Uma qualidade fundamental de qualquer ato é que ele é realizado por um sujeito-ator que, mesmo com pouca qualidade dramática, pouco poder de fala, se faz responsável. Responsável no sentido de portar intenções que serão reveladas nas cartas por um círculo de amigos e que implicam tanto destinatário quanto escritor. Intenções que apresentam o desejo inconsciente distorcido para ser assumido em sua forma mais primária de pulsão que assim passa a vincular-se ao domínio ético. Pulsar Lacaneando é um ato ético agora que sabemos disso.