Ao cair de uma tarde de Agosto de 1385, no sopé de um outeiro vizinho de Porto de Mós, de Aljubarrota e de Alcobaça, um jovem rei castelhano consumido de febres presenciava impotente o aniquilamento do seu exército e o afundar das esperanças que o tinham conduzido até ali. A única coisa que ele procurava agora, no meio da carnificina, era um cavalo para se escapar do inferno. Esse momento, fixado a óleo num quadro trágico guardado em Madrid, assinala o culminar de uma evolução de cerca de cinquenta anos, durante a qual se jogou de forma determinante a sina das nações ibéricas. Este livro, constituído por factos reais, recupera desse tempo as memórias de personagens inesquecíveis. Nas crónicas antigas se lhes descobrem os afectos, as dores, as ambições, os ódios, as vilanias, as heroicidades. E, também, os pequenos e os grandes gestos que dão sentido à História e que ajudam a compreender melhor os destinos de dois espaços, Portugal e Castela, que, tendo pertencido durante séculos a um corpo comum, acabaram transformados numa espécie de irmãos siameses pegados pelas costas, espiando-se por cima das fronteiras como quem espreita, desconfiadamente, por cima do ombro.