Compositor, maestro, pianista e crítico musical, Julio Reis nasceu em São Paulo, em 1863. Mas foi no Rio de Janeiro do início do século XX que compôs valsas, polcas, habaneras e tangos que o tornariam popular entre artistas e intelectuais da época. E abririam caminho para a publicação de livros de contos e de críticas, e para a realização de projetos musicais mais ambiciosos. Sinfonias e óperas, como Heliophar, parte da programação oficial do Centenário da Independência. Julio Reis deixou um acervo bem organizado - e extenso -, com partituras e muitos recortes de jornais. Mas pouco ainda se sabe sobre suas motivações e suas lutas. Agora seu bisneto, o jornalista Fernando Molica, recupera a trajetória deste que foi certamente um dos mais importantes nomes do cenário musical clássico brasileiro. Após três romances ambientados na contemporaneidade, o escritor volta ao Rio antigo para compor um rico panorama de uma época de grandes mudanças. O inventário de Julio Reis, no entanto, faz mais que resgatar o legado de um compositor ainda pouco conhecido. Com um pé na realidade, este romance disseca, também, o Rio de Janeiro capital da República. Onde se concentrava o que de melhor e mais importante havia na política, na academias, nas artes. O cenário musical vastíssimo, com companhias internacionais de ópera se revezando em espetáculos concorridíssimos. A Primeira Guerra, a Revolução Soviética, as conquistas científicas, essas e outras transformações fundamentais para a cidade e para Julio Reis desfilam pelas páginas, em meio a histórias controversas e pitorescas. A casa em Piedade, e a incongruência de um gênio clássico perdido no subúrbio, a ojeriza pelo que rompia com o convencional - como Debussy e Villa Lobos -, o amor pelos clássicos. A briga pela verba aprovada para a montagem de sua ópera Sóror Mariana. Que nunca saiu. Aqui, Fernando Molica compõe, nota a nota, um arranjo de possibilidades. Uma hipótese de Julio Reis que ultrapassa a realidade, sem nunca a perder de vista.