Uma obra ousada e original que confronta autores tão distintos e representativos como Donald W. Winnicott e Michel Foucault, tanto no sentido acadêmico quanto no sentido ético-político. Aqui, as inquietações levantadas por Beatriz Gang Mizrahi rompem os limites estritamente epistemológicos, articulando poder e afeto, criatividade e alteridade, subjetividade e história, singularidade e política. Partindo da análise foucaultiana das relações de poder na modernidade, e também da crítica sociológica de Castel, que enfatiza a banalização do desamparo na atualidade, a autora aponta Winnicott como um contraponto a essas visões, na medida em que questiona tanto a inevitabilidade dos processos de regulação da vida para o estabelecimento da sociabilidade humana quanto o desamparo como aspecto central do processo de subjetivação. Aqui, Beatriz Gang mostra de que forma Winnicott, ao conceber a resistência criativa, reinterpreta de maneira inovadora - e libertadora - a famosa função dos limites na interação com os bebês, e com os filhos e de maneira geral, tão apregoada pela tradição psicanalítica. Abandonando o conceito de pulsão de morte, Winnicott permite ver a agressividade como expressão do próprio impulso vital, da espontaneidade do bebê em sua descoberta do mundo. Sendo assim, essa força vital não só se expressa gerando um certo grau de tensão, como necessita de uma resistência acolhedora de seu gesto para que, ao encontrar esse anteparo, o bebê, a pessoa, possa sentir-se vivo, existindo. O livro, portanto, é uma experiência "transicional", como diria Winnicott, transitando sem as rígidas (e modernas) distinções entre a clínica e política, entre o afeto e a sociedade, entre o singular e o institucional. Assim, a obra interessa não apenas ao leitor acadêmico, mas a todos aqueles que buscam uma teoria crítica que forneça subsídios para a construção de subjetividades ética e politicamente comprometidas com a solidariedade, a participação e a transformação social.