Vi esta escritora nascer. Do pó. Das cinzas. Com que garra. Com que unha e língua. Marina Filizola chega. A este primeiro e contundente livro. Vem. E solta o verbo. A verve raivosa. Doa a quem custar. Custe a quem doer. Não escreve mansa. A gata. Não lambe a cria. Ninguém escapa de sua prosa. Nem ela mesma. A própria. Acaba virando objeto de seu olhar. Aguçado. Impiedoso. Bem-humorado. É uma escrita que enxerga longe. Avante. Por dentro. Há muito tempo eu não via uma contista deste jeito. Dando vexame. Viciada em monólogos ritmados. Frenéticos. Quer seja para falar da noite pauleira-paulistana. Ou para narrar o inferno que é a maternidade. Ave! Não tem quem segure essa mãe. Antes de mais nada, mulher. Coirmã, me parece, de autoras como Ivana Arruda Leite. Bebendo e como bebe na mesma fonte da Rê Bordosa, personagem clássico de Angeli. Filizola é, sim. Uma figura animada. Quase uma caricatura. Um borrão no espelho. Digo aqui, é claro. De seu texto. Único. Livro este para se ler numa sentada. Essa verdadeira crônica da vida privada. E tão coletiva. Não é todo dia, repito. Em que aparece uma força assim. Na literatura brasileira. Bem-vinda a este mundinho, companheira.