As reflexões deste trabalho se voltam à compreensão das discussões a respeito dos padrões ético-sociais do historiador enquanto profissional, bem como à relevância social e restauradora que o estudo de temas historiográficos baseados em episódios traumáticos pode ter para os pesquisadores e para a(s) sociedade(s) atingida(s) pelos eventos estudados por estes. Além disso, também foram consideradas as consequências teóricas e metodológicas que acarretam na conjunção desta discussão. Desta forma, dois elementos são submetidos à apreciação: os usos (responsáveis) e maus usos (irresponsáveis) da história, e a ética dos historiadores. Equidistante a estas questões axiológicas deu-se atenção ao debate proposto por Antoon De Baets sobre o potencial impacto dos sistemas de valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) na adoção de um código de ética para os historiadores. Concomitantemente, este estudo considera a hipótese de que os problemas no lidar com os legados de violências e atrocidades causados por regimes totalitários e guerras que conduziram à criação de tribunais, comissões de investigação, de verdade e reconciliação impactam na elaboração de padrões de responsabilização no lidar com o passado, onde o compartilhamento de responsabilidade, culpa e vitimização criam uma identidade comum que pode fornecer uma base para o diálogo, abrindo espaço para a reconciliação em direção da história a serviço da reconstrução moral e política de comunidades injustiçadas. A compreensão do passado em seus próprios termos, portanto, não é nem desejável nem possível. Por fim, a interpretação das vozes dos que sofreram as injustiças no passado amplia a extensão narrativa que se faz das vítimas. Assim, parece favorável não recusar à história seu privilégio de criticar, corrigir, ou desmentir uma memória que se contrai sobre suas experiências aversivas, tornando-se cega e surda. A história vai, deste modo, ao encontro do restabelecimento de justiça em uma sociedade marcada pelos efeitos duradouros e permanentes de injustiças.