As questões que rondam em torno dos mistérios sobre o corpo são inúmeras, mas uma delas tem sido, ao longo da história da humanidade, objeto de muitas reflexões: qual a serventia, para o homem, de seu corpo? Mesmo sem ter uma clareza quanto a isso, o homem é o agente de muitas transformações no corpo, retratadas em signos de memórias. Para tanto, vale-se de implantes, transplantes, cirurgias estéticas, enxertos de silicone, modificações corpóreas, cirurgias para mudança de sexo, dietas para engordar e para emagrecer, entre outras. No cenário dessas ações no corpo, encontramos, no século XX, a Body Art, que se apresenta na contramão das prerrogativas que consideram o corpo um espaço sagrado ou mesmo conformado pelas leis da Biologia. Em princípio, tal modalidade artística pressupõe que o corpo é uma massa amorfa e as várias possibilidades de criar formas devem ser decorrentes da vontade e do desejo do homem. Desse modo, essa arte, surgida na segunda metade do século XX, como um movimento contestatório em relação às guerras que dizimavam milhares de vida no planeta, distancia-se profundamente do tratamento dado ao corpo pela Ciência e pelo mercado de consumo. A Body Art é apenas um exemplo do entendimento de que o corpo pode ser utilizado como material de dotada plasticidade. As apresentações são acontecimentos artísticos, como uma ação em que aquilo que se potencializa com o corpo é elevado à categoria de arte. Sem dúvida, esse estilo de arte é alvo de muitas críticas. No entanto, esse livro pretende abordá-lo, de modo que possa positivá-lo sem recorrer a amarras que interpretam os acontecimentos da Body Art em termos psicopatológicos. Trata-se, pois, de uma criação artística própria do tempo e do mundo em que vivemos.