O livro Memória Virtual apresenta a obra de Marcolini, com reproduções de seus trabalhos e textos críticos de Guilherme Bueno, Mario Gioia e Felipe Scovino, oferecendo ao leitor um mergulho no processo criativo do artista. As pinturas de Marcolini nos falam de um universo de visualidade banal e anódina, exacerbada por um tratamento distanciado e neutro. Segundo Felipe Scovino, "(...) um arquivo de imagens aleatórias (vindas da internet, fotos doadas por amigos ou capturadas ao acaso, entre outras diferentes fontes) e memórias. (...) Sendo anônimas e comuns, essas imagens se situam em um território ambíguo: nascem como ideias representativas de uma memória, porém terminam flertando com uma certa impermanência, isto é, a referida memória iconográfica é perceptível mas ao mesmo tempo anulada." Nas pinturas de 2008, feitas sobre capas de discos de vinil, o artista usa uma trama de pixels para obliterar as fisionomias dos intérpretes. O espectador "entende" com seu olhar já acostumado a "limpar" mentalmente ruídos de imagens digitais, e com sua memória afetiva de quem ouviu e dançou ao som dessas músicas, e neste jogo entre o velar e o desvendar reside a força destes trabalhos. Este jogo e esta atmosfera de uma memória virtual que se constrói no limite de percepções arbitrárias e imprecisas está presente também nas demais pinturas de Marcolini, que, segundo Mario Gioia, consistem em "paisagens carregadas desse cinzento estado de espírito, de personagens ausentes, de errâncias desprovidas de sentido, de uma quietude a predominar (...) uma investigação da paisagem, produzida sob um signo de pintura expandida." Marcolini elabora suas pinturas mais recentes com o sobrepor de camadas e camadas de "impressões" de tinta, num processo trabalhoso e demorado, com uma paleta econômica e sutil. Para Guilherme Bueno, "se elas explicitam diretamente sua familiaridade tanto com a gravura quanto com as lentes fotográficas ou telas de TV e computador, falam silenciosamente de uma luz capaz de dar vida a estes espaços. Em outras palavras, se sua decomposição faz Seurat e computadores darem as mãos, seu brilho escavado entre as brechas não se exime de dialogar com Goeldi." São pinturas que nos falam dos limites da percepção e da História da Arte mas que, em seu distanciamento e sutileza, são totalmente contemporâneas, testemunhas silenciosas de um universo fragmentado e evanescente.