Durante um ano mantive este diário, ora de forma assídua, ora mais descontraída, ora esporádica, ora regular, com a intenção de compartilhar qualquer observação que tivesse registrado a respeito da vida de um nariz. Imaginava que na aparente desordem do pensamento assim exposto, para além das digressões ou dos atalhos percorridos, ao seguir meus passos o leitor poderia construir para si mesmo uma visão de conjunto, bastante fiel e significativa, do que vem a ser a realidade de um criador de perfumes. Muitos elementos da minha vida são de fato voltados para essa forma de expressão incomum, que vem a ser a composição de um perfume. Meus pensamentos quotidianos me conduzem frequentemente nessa direção, em todo caso acabam sempre por lá chegar, como se eu mesmo fosse resultado dessa trama. Os odores são minhas palavras. A forma como lido com eles decorre de uma lógica, de um instinto, de um trabalho, que acredito serem comparáveis ao procedimento de um escritor às voltas com a tarefa [...]