Quem imagina que a grande poesia morreu, precisa ler com urgência Alberto da Costa e Silva: "Uma ausência de mim por mim se afirma./ E partindo de mim, na sombra sobre/ o chão que não foi meu, na relva simples/ o outro ser que sonhei se deita e cisma".Pertencendo cronologicamente à chamada Geração de 45, o poeta se integra, na realidade, àquela sociedade de poetas autênticos que se colocam por vontade própria à margem (e acima) das modas efêmeras, identificados com a velha tradição da poesia ocidental, que se alonga de Homero a Rilke, de Goethe a Drummond, de Camões a Fernando Pessoa. Isso significa uma ampla abertura espiritual, mas também uma série de exigências que o poeta Costa e Silva, pondo de lado a pressa e a ânsia de glória, cultiva com zelo e paciência, para atingir a forma depurada que lhe caracteriza a poesia, essencialmente lírica, na qual o velho e eterno soneto ocupa um lugar de destaque. "A sua obra é uma vitória permanente da cultura sobre a natureza, ou da exigência sobre a facilidade", conforme acentuou Antonio Carlos Villaça. Mas é também, como toda poesia autêntica, inquieta e perplexa ante o mistério da vida. O poeta se angustia e reage com uma preocupação quase obsessiva diante da morte e do tempo ("o eterno é agora e em si mesmo morre"), uma forte nostalgia da infância ("Vou pedir a meu pai/ que me esqueça menino"), mas também uma permanente sedução e reverência pelo amor, sem cerrar os olhos à beleza do mundo, ao jogo da "luz numa caixa de laranjas/ ou a chuva sobre a mesa de verduras no mercado". É que o poeta sabe que verdade não há, mas múltiplas verdades e que a poesia é esquiva. É preciso fisgá-la no momento de sua eclosão: "A vida canta baixinho/ e, quando grita,/ desatam-se de nós o sonho e o êxtase".