Fotografia como meio de conhecimento? Registro do real (ou o que se apresenta como real), ou mera interpretação direcionada pelo fotógrafo? São Paulo: minha estranha cidade linda, de Claudio Edinger, fugindo a essas indagações, tem a proposta de ser reflexão sobre a urbanidade e sobre nossa capacidade e incapacidade de construir uma cidade justa, organizada e agradável. Tal proposta tem tudo de arte útil, com finalidade e decisão de intervir, ingrediente que já produziu nos últimos séculos grandes obras, sobretudo em momentos de crise e descrença no próprio homem. No caso deste livro, brilha em cada foto uma visão inesperada, que começou a existir só naquele momento de fotografar. Mas não bastariam tão-só o insólito e o inesperado, se não justificados pela beleza ali presente. E pela ousadia também, que exime o fotógrafo de pactuar com o palatável e quotidianamente gasto em fotografia. Daí, na sua epígrafe, o conceito de Henri-Cartier-Bresson: Foco é um conceito burguês. Difícil escolher qual foto mais original e desfocada de uma visão que não exige mínimo momento de reflexão. Assim, imagens da Estação da Luz , do Viaduto Martinho Prado ou do edifício Martinelli e toda as demais são leituras comprometidas com a estranheza e com a lindeza de que o título do livro dá conta. Os textos de Ernie Nitzberg e de Diógenes Moura falam competentemente da intenção do livro. Basta, de Diógenes Moura, este comentário: O fotógrafo singulariza a cidade como um rosto num retrato. Nessas imagens, seus rumos nos provocam uma incerteza avassaladora: quem somos nessa urbe? O que ela pensa de quem a vê? Para Ernie Nitzberg tudo nas fotos de Edinger tem as beiradas sem foco, em movimento, no qual os homens, os cidadãos quando estão de alguma forma presentes nas imagens parecem átomos a fugir do seu núcleo. Vale a pena entrar neste livro e descobrir a verdade que há dentro dele. Verdade às vezes dura, mas tornada arte, e das grandes, neste 13º livro de fotos de Claudio [...]