Não nos deixemos levar pela fantasia do mito, já vai longe o tempo em que o destino do homem estava escrito no livro dos deuses. Guiar o vernáculo pelos caminhos da Mitologia pode não ser um bom alvitre à salubridade do discurso, porque, fatalmente, o encanto se tornará mais atraente que a lógica. Porém a confusão da narrativa não é um ponto negativo, talvez seja até o ingrediente mais forte para causar impressão e embevecimento. Nesse caso, é preciso ficar com o mínimo do mito. Isso quer dizer que não vale a pena tentar descrever a Medusa, já que o primeiro empecilho seria a opção por uma das versões conhecidas. Que não nos importemos com sua origem ou com seu poder de transformar pessoas em pedra. Não se quer saber nem mesmo do seu caso fortuito com Poseidon, no templo de Atena. As serpentes, aqui, serão a crítica, os tabus sociais, as dúvidas inquietantes da humanidade, os desafios da razão e a inexorabilidade da vida na Terra. A intenção é forçar o raciocínio, a descoberta (...)