Domingo é o primeiro romance do escritor carioca Francisco Slade. Com ele a 7Letras abre o ano da coleção Rocinante, o grande xodó da editora do Jardim Botânico. A Rocinante, no geral, busca revelar autores contemporâneos. No caso do autor de Domingo, a palavra contemporâneo pode ser aplicada com todas as letras e em negrito. Francisco Slade tem 26 anos. Será que pode haver algo mais contemporâneo do que ter 26 anos nessa quase metade da primeira década do século? Isso não significa que o autor entupa sua literatura de personagens que vivem passando e-mails, batendo papos em chats ou visitando blogs (se bem que o próprio Slade mantenha um). Para falar a verdade, não lembro do personagem principal de Domingo ter falado uma única vez ao celular. Isso é um diferencial porque trata-se de um escritor filho de uma geração que talvez não lembre de ter ido a um cinema que não ficasse num shopping. Domingo tem a violência urbana como pano de fundo, o que - já que estávamos falando disso - por si só já faz com que a história também seja contemporânea. Mesmo que em momento algum o romance esteja situado, quem é conterrâneo de Slade ou conhece a cidade, identifica o Rio de Janeiro nos bairros de Santa Teresa e Glória, cenários belos e decadentes, perfeitos para duas ou três cenas de brutalidade crua protagonizadas pelo personagem principal de Domingo, mais um matador que aporta na literatura de nossos tempos trazendo sua frieza e suas complexidades, carregando também seus visíveis elementos de Rubem Fonseca, desde a década de 80 uma assombração quase que de praxe quando o assunto é escritor iniciante cujo romance ou conto se passa em uma grande cidade. Domingo apresenta um vocabulário apuradíssimo. Francisco Slade parece ser um daqueles autores que não jogam na tela a primeira palavra que vem à cabeça. Não, talvez fique pensando, abra o dicionário e fique ali escarafunchando para saber se o significado daquela palavra casa direitinho com o sentido que quer dar ao texto. Aí sim, digita a escolhida no meio de frases bem construídas. Para alguns pode parecer pernóstico, mas se a falta de uso de certas palavras não comprometer a leitura (e no caso não compromete) é uma forma criteriosa de explorar as inúmeras possibilidades da riqueza da nossa língua. O texto lapidado também reserva boas imagens: prestem atenção na descrição da fileira de postes de luz que ilumina uma tórrida e vulgar cena de sexo na página 70. Andre Giusti