Este Peixe insolúvel /mundo em excesso\ de José Rodrigo Rodriguez deveria dar muito o que falar no panorama da atual poesia brasileira. A retomada da metáfora bretoniana/surrealista do título, porque revirada pela ironia, não indica filiação mas reversão de todo o livro para escavação do sentido do excessivo dos simulacros. Se é que seja possível, senão com ironia funda e recorrente, captar sentido nisso. Mas a contramercantilização, mesmo assim, já é um sentido forte... Então não basta indicar e repetir por vãs metáforas, que são também mercadorias, que as coisas disponíveis são excessivas e alienantes, porque disso muitos já sabemos e a tradição da crítica literária também. Antes é imprescindível desocultar a lógica que preside e determina o excesso, como fantasma fraudulento da produção patológica de mercadorias das quais não necessitamos. Então os ´poemas´, melhor: os escritos deste livro desafiador põem em cena o desvio perverso da criação de ´necessidades´ e assim revelar que o excesso existe para satisfazê-las. A história do capital está aí para isso e só com a força da ironia pesada se pode combatê-la.Haveria, pois, um cansaço extremo nesse excesso, que é o impasse nada poético que percorre este Peixe insolúvel. Talvez os mares da nossa desumanização crescente estejam a apodrecer... É ler e enfrentar este livro provocador para, eventualmente, saber.