Fazenda de Cacos é o terceiro livro de Marcelo Benini, 44, mineiro de Cataguases e morador de Brasília-DF. O escritor Chico Lopes, no prefácio do livro, definiu assim a poesia de Benini- Vejo em Benini esse namoro profundo de um homem que, de resto, é muito urbano, prosador lírico e ferido de cafés, ruas e seres esmagados pelo cinzento das chuvas impuras, com os ruídos, cheiros e cores do campo, dos matos atávicos.... Estão aqui Cataguases e seu Rio Pomba em belos poemas, estão aqui plantas e cheiros e voos do Cerrado, mas aqui está o Benini mais inteiro que se via em O homem interdito - na ironia do Pas de deux , cujo final é muito forte, na brevidade dura de Nicolai , e, entre muitos outros, nesse poema antológico sobre a velhice que é Serás Juan Gelman . Fico encantado com o poder de síntese da poesia de Benini. Em A necessidade da escravidão , cinco linhas bastam pra definir a vida de um casal e tudo que ela cala de opressivo, de triste, de irremediavelmente perdido. Sim, aqui estão a exaustão dos retratos em ruínas, a reflexão metafísica do Agnistério , o amor que, de mãos dadas, tenta olhar com fé para o futuro, suprimindo a raiva mútua dos amantes. Nada supera a violência de um ipê. Sua explosão de amarelos pode estar ali, convivendo com o negrume agourento dos urubus. A Natureza se exibe e despe com sua maravilhosa indiferença, florindo para justos e injustos. Benini deve ter se lembrado de que a História passa e o Mundo fica, ideia camusiana de Núpcias, o Verão , ao escrever que o capim crescerá sobre todas as coisas .