Se escrever biografias é tarefa difícil, mais ainda o é ser biógrafo dos excluídos, daqueles que nasceram fora do estreito círculo do poder. O professor Jeferson Bacelar se propôs a enfrentar esse desafio quando decidiu registrar a vida do ator Mário Gusmão, um brasileiro que, a despeito de sua importância, corria o risco de ter sua luta esquecida tão logo deixassem de existir aqueles que o conheceram. Não foi fácil a tarefa: se os poderosos deixam sua marca no mundo em monumentos, documentos e guerras, o povo só pode deixar a herança do seu trabalho e do exemplo da sua vida. Esses registros imateriais só podem ser encontrados no coração e na memória dos parentes e amigos sobreviventes: e essas foram as fontes principais a que Jeferson Bacelar recorreu para reconstruir a trajetória de Mário Gusmão. Nascido em uma família humilde numa cidade do Recôncavo Baiano, negro e pobre, Mário tinha tudo para ser mais um entre tantos milhões de brasileiros anônimos, que passam a vida inteira lutando pela sobrevivência mais elementar. Entretanto, diversos fatores concorreram para que se tornasse um dos maiores atores e agentes da cultura que a Bahia já produziu, um mestre que influenciou o meio artístico e o movimento negro. Que fatores foram esses? É isso que Jeferson Bacelar mostra em sua obra. Mantendo um raro equilíbrio entre o relato da vida individual e a descrição histórica, o autor consegue contextualizar os eventos biográficos, demonstrando como uma certa combinação de condições sociais pode criar uma dessas trajetórias a que corriqueiramente se atribuem causas excepcionais. A clareza com que o autor descreve essa vida, imersa em um contexto tão lucidamente analisado, torna-se um alerta contra o preconceito e a favor do reconhecimento da urgência de mudanças que permitam que milhões de pequenos Mários possam florescer e realizar seus potenciais. Mário Gusmão nasceu em 1928, na cidade de Cachoeira, no dia em que os terreiros baianos comemoram o grande orixá Ogum. Começou a vida como servente num presídio de Salvador. Mas a curiosidade pessoal e o estímulo da família fizeram com que se dedicasse aos estudos, atingindo os limites a que os jovens negros e pobres conseguiam chegar na época e indo mais além. Mário Gusmão nasceu em 1928, na cidade de Cachoeira, no dia em que os terreiros baianos comemoram o grande orixá Ogum. Começou a vida como servente num presídio de Salvador. Mas a curiosidade pessoal e o estímulo da família fizeram com que se dedicasse aos estudos, atingindo os limites a que os jovens negros e pobres conseguiam chegar na época e indo mais além.