O livro O boi no telhado - Darius Milhaud e a música brasileira no modernismo francês, organizado pelo musicólogo e pesquisador Manoel Aranha Corrêa do Lago, que faz uma análise completa sobre a composição do francês Darius Milhaud (1892-1974), uma das personalidades mais influentes na música do século XX. Membro do Grupo dos Seis, tornou-se famoso como autor de obras como Les Choéphores, L'Homme et son désir e La Création du monde, e influenciou músicos de diversas gerações, do americano Dave Brubeck ao alemão Karlheinz Stockhausen. O jovem compositor tinha 25 anos quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1917. Trabalhou como secretário da embaixada francesa, capitaneada pelo poeta Paul Claudel. Nos dois anos que passou no Brasil, mergulhou na vida musical carioca e familiarizou-se com saraus, salas de concerto, e também com a música popular, como os tangos, maxixes e sambas. Não há dúvidas de que essa passagem pelo Brasil proporcionou uma marca profunda em sua obra. De volta à França, Milhaud compôs títulos como Saudades do Brazil, Souvenir de Rio, Danças de Jacaremirim, e Le Boeuf sur le toit, ou O boi no telhado, que estreou em Paris em 1920. Com roteiro cênico de Jean Cocteau e cenário de Raoul Dufy, a peça garantiu a Milhaud um lugar de destaque nos ambientes artísticos da vanguarda francesa. O boi no telhado compila vários temas da música popular brasileira da época e cita 14 compositores, entre eles Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Marcelo Tupinambá, João de Souza Lima, Catulo da Paixão Cearense, Alberto Nepomuceno e José Monteiro (Zé Boiadeiro). "Na composição, Milhaud coleciona ritmos, harmonias, citações diretas e indiretas e as transforma em matéria-prima para uma verdadeira colagem musical, uma obra prismática que faz um vaivém entre a música local e a composição de vanguarda", explica Samuel Titan, coordenador executivo cultural do IMS, no texto de apresentação do livro. A publicação do IMS tem o objetivo de examinar com lupa histórica e musicológica O boi no telhado. Os seis ensaios reunidos no livro se propõem a iluminar a peça de Milhaud de ângulos diversos. Partindo da pista levantada pelo pianista Aloysio de Alencar Pinto no texto "Partitura brasileira com sotaque francês", Manoel Aranha Corrêa do Lago estuda as fontes do Beuf e seu tratamento composicional em "O boi no telhado e as fontes brasileiras de Darius Milhaud: discussão e análise musical". Ao mesmo tempo, o organizador faz um relato erudito e saboroso dos anos cariocas do compositor em "Darius Milhaud no Brasil". Segue-se "Um boi pode esconder outro", ensaio da historiadora francesa Anaïs Fléchet que se debruça sobre a volta de Milhaud à França, a estreia do Boeuf e a vida musical parisiense no pós-guerra. Por sua vez, a pesquisadora norte-americana Daniella Thompson compila minibiografias de todos os compositores brasileiros citados por Milhaud em sua suíte no ensaio "Parceiros em surdina". Finalmente, o musicólogo italiano Vincenzo Caporaletti faz, a partir do Boeuf de Milhaud, uma reflexão original sobre a natureza do swing e as relações entre música popular e composição erudita no século xx. Os ensaios são complementados por dois textos de época: um retrato do Rio de Janeiro e do Brasil, pelo embaixador-poeta Paul Claudel, e a peça concebida por Jean Cocteau para a estreia parisiense do Boeuf. A publicação conta ainda com um CD de duas faixas. A primeira traz uma gravação da partitura sinfônica de Milhaud sob a batuta do maestro americano Kent Nagano. A segunda é um arranjo da mesma partitura para formação de choro, assinado por Paulo Aragão e gravado pelo conjunto Caldereta Carioca especialmente para esta edição, que, por assim dizer, devolve O boi no telhado a suas origens brasileiras, completando um longo círculo - ou, quem sabe, iniciando outro.Manoel Aranha Corrêa do Lago procura fazer uma análise completa sobre a composição do francês Darius Milhaud (1892-1974), uma das personalidades influentes na música do século XX.