Durante o século XX, a cidade de São Paulo atravessou um processo de urbanização muito intenso que, em 1953, transformou-a na maior cidade do Brasil. Esse fato mereceu uma reflexão a partir das seguintes questões: como e em qual ambiente cultural se desenvolveu o samba paulista na década de 1950? Quais suas relações com a história da cidade? Quais foram as suas principais características? Quais suas relações com a indústria cultural? A realização de um estudo sobre isso deveria abordar as temáticas a partir de uma metodologia que considerasse as relações teóricas entre história, literatura, música, radiodifusão e territorialidades na capital paulista. Essa perspectiva mais abrangente tornou perceptível para o autor um problema estrutural que estava expresso pelos dados analisados e que mostravam que na década de 1950 os espaços de produção de música popular estavam marcados por uma contraposição urbana. Havia uma área geográfica localizada na região do quadrante sudoeste que estava protegida por uma minuciosa legislação e outra área, três vezes maior, formada pelos bairros industriais e periferias, que estava entre uma condição legal e uma condição ilegal. Grande parte da população habitava nessas regiões em malocas, favelas e cortiços, ou seja, em péssimas condições de sobrevivência. As crônicas têm um grande potencial heurístico por serem narrativas curtas sobre conteúdos que geralmente estão dialogando entre os grandes temas e as miudezas da percepção do cotidiano e pelo uso da imaginação humana narram experiências de observação da realidade, quase como um relato etnológico. O samba era, e ainda é, um tipo de crônica em formato musical. Para tentar entender de maneira mais profunda essa problemática o autor analisa uma série de crônicas escritas por Osvaldo Moles e publicadas no livro Piquenique Classe C em 1962. Um dos interesses foi pela expressão samba de porão, contida neste livro e o que ela poderia gerar de indícios sobre os ambientes culturais [...]