Não se trata de uma caminhada que se inicia agora. Já temos um movimento expressivo de experiências pedagógicas inovadoras, fundadas na cultura popular e na matriz da gente do campo. A pequena e quase simbólica substituição da expressão "escola no campo" por "escola do campo" traduz esta passagem de uma escola urbana, apenas adaptada ao contexto rural sem alteração de suas características e estratégias pedagógicas, para uma escola emergente da relação visceral entre a educação e o homem do campo com suas tradições e cultura e trabalho. Trata-se de um modelo educacional próprio do campo ainda em construção, enriquecido, dia a dia, com novos conhecimentos empíricos e teórico-críticos, temperados na forja quente e martelante da experiência quotidiana e que, seguramente, abrirá caminho ao reconhecimento do sujeito do campo como portador pleno de direitos numa sociedade democrática e justa. As pesquisas publicadas no presente volume nos confrontam com esta realidade abrindo-nos os olhos para a distância entre o previsto em lei e a realidade concreta da educação do campo. Os trabalhos mostram a realidade, realçando os problemas do deslocamento, da formação e condição de trabalho dos professores, da falta de recursos materiais, das classes multisseriadas. São trabalhos de modo algum restritos ao interesse local uma vez que, desde contextos específicos e bem concretos, contribuem para entender fenômenos gerais da educação do campo do interesse de todos os brasileiros e, em especial, dos responsáveis pela formulação de políticas públicas para o setor, além, é claro, daqueles diretamente envolvidos na práxis pedagógica.