Na pequena São Bento da Ribanceira, cidade amazonense fictícia criada para ser um dos palcos de a lucidez da lenda: um ensaio sobre o futuro, romance épico passado na segunda metade do Século XXI, o ditado que diz que "Deus é brasileiro" parece se confirmar. É ali que Ele, sob diferentes formas e em diferentes momentos, vai se comunicar com Antônia dos Anjos, uma jovem ribeirinha cuja missão será impedir a destruição da Amazônia por parte da Federação das Corporações Unidas, a mega associação de multinacionais, que com seu poderio econômico, midiático e bélico domina a Ordem Mundial. Nesse romance ambientado no futuro, muitos são os acertos do autor: i) personagens bem construídos - de Antônia dos Anjos a Jack Gorila Stealler, os principais, passando por Laráppio, Smartt, Jovelino, além dos índios Jurujunas, Ammos e Tapunuê, da revoltada Bonnie e do repórter André; ii) boas descrições de ambientes, ao estilo naturalista, sejam eles a aldeia dos Jurujunas, a mata virgem do alto Amazonas, os descampados de Brasília ou os arranha-céus de Nova Iorque e Chicago; ii1) criatividade na invenção das máquinas do futuro, sejam elas os terríveis robôs deletadores, sejam os meios de transportes, como os helijatos e foguetes propulsores individuais, o que, de maneira geral, confere um tom sei-ti à atmosfera épica; iv) trama bem estruturada e bom ritmo narrativo. Outro ponto positivo que merece ser destacado é a aguda percepção de como a conjuntura em que vivemos nessa segunda década do Século XXI caminha a passos largos para se parecer bem de perto com a que é descrita nessa ficção, o que embora não seja um prognóstico a se comemorar, certamente ajuda a chamar atenção para a já massiva onipotência dos mercados e corporações sobre o destino de bilhões de pessoas em todo o planeta.