O campo de estudos sobre a morte e o morrer se encontram em expansão na atualidade. O interesse pelo tema, tornado clássico por alguns historiadores franceses já nas décadas de 1970 e 1980, parece a cada ano aumentar. Mais ainda, cresce o número de historiadores que se debruçam sobre o tema da morte em guerra. Interpretar o sentido e as implicações de eventos e processos como a relação entre a morte e as leis, os métodos e locais de sepultamento, os cemitérios do campo de batalha e toda uma série de procedimentos de ordem prática que indivíduos e instituições exercem em relação aos mortos são reveladores da história cultural, política e institucional das sociedades nas quais se inserem. Este livro examina tais questões a partir de uma documentação inédita. Com a entrada do Brasil nesse conflito mundial em 1942, e o envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para o teatro de operações na Itália em 1944, ocorreu a consequente criação de um Pelotão de Sepultamento (PS). Essa unidade gerou diversas fontes passíveis de problematizar a preparação individual do soldado para a probabilidade de sua própria morte. Partiu-se da análise de devoções individuais deles, expressas nos objetos religiosos encontrados pelo PS em seus cadáveres. Ao mesmo tempo, procedimentos institucionais destinados ao tratamento dos mortos em guerra, os monumentos fúnebres e o repatriamento dos restos mortais dos soldados caídos no front, permitem interpretar as tentativas de construção de um culto cívico aos mortos no Brasil Contemporâneo.