Nono romance de Carlos Heitor Cony, Pilatos é um dos livros mais importantes na obra do autor e, também, um de seus preferidos. Tornou-se uma obra emblemática por fazer uma sátira incisiva sobre a situação política e a contestação no Brasil durante os Anos de Chumbo. "É a minha visão do mundo, e acho que vou morrer com ela", disse o escritor, que, após tê-lo publicado, sentiu-se tão satisfeito com o resultado da obra que decidiu não mais escrever. O ano era o de 1974. Cony passou então 23 anos sem publicar nenhum outro romance, até sua volta à literatura com o consagrado Quase memória, de 1995. Pilatos conta a epopeia às avessas de um homem que, após passar por uma série de amarguras na vida, é vítima de um atropelamento e vaga pelas ruas do Rio de Janeiro carregando seu órgão sexual mutilado num vidro de compota. Em seu caminho, pontilhado de aventuras picarescas, encontrará os personagens mais bizarros do submundo da cidade. "Sei que a história existe, está escrita e inscrita em minha carne", diz o memorável personagem de Cony ao narrar suas absurdas aventuras Vagando numa jornada sem propósito, pontilham sua história bêbados, beatas, fascistas, mendigos, cineastas, sacristães, donos de bares infectos e policiais truculentos, cada qual tentando ganhar a vida à sua maneira. E, ao seu lado, vai o leitor, surpreso com cada novo desdobramento e cada inesperado personagem da considerada obra-prima de Cony.