O setor elétrico brasileiro, a exemplo do que ocorreu em vários outros países, passou por transformações e reformas institucionais importantes nas últimas duas décadas. De um modelo estatal e fortemente regulado, passou a ser mais dirigido pela ótica de mercado, com estímulos à concorrência em segmentos como a geração e a comercialização. A evolução tecnológica no setor de telecomunicações e sua aproximação com o de energia elétrica, notadamente no segmento de distribuição, têm sinalizado mudanças substanciais nesse quadro, com a expectativa real e imediata de inovações radicais na forma de interação com o usuário final, que passa a ter papel ativo e preponderante nesse processo, podendo, inclusive, gerar sua própria energia, gerir melhor o seu uso, seja em sua residência ou unidade consumidora. Poderá, ainda, demandar novos serviços ao fornecedor de energia elétrica e a integração de serviços de utilidade pública, como internet, telefone, gás e água. Essa transição para o novo modelo de distribuição de energia elétrica, que se convencionou chamar de Redes Elétricas Inteligentes no Brasil, é inevitável e altamente desejável. Por outro lado, a implantação bem-sucedida desse modelo requer providências importantes dos responsáveis pela formulação de políticas públicas e pela regulação do setor, bem como das empresas de energia elétrica e seus fornecedores de tecnologia. Daí a importância de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), incluindo projetos pilotos, demonstrativos e experimentais, como tem sido feito por várias empresas de distribuição. Além de testar, avaliar e desenvolver novas tecnologias, conceitos e técnicas inerentes a esse novo modelo de distribuição de energia elétrica, esses projetos incluem a indispensável formação de recursos humanos e infraestrutura laboratorial. Igualmente importantes são os estudos sobre a situação atual das redes de distribuição no Brasil e a construção de cenários para migração desse modelo, incluindo automação e medição eletrônica na baixa tensão, a análise e a alocação dos custos e benefícios e os impactos da geração distribuída, do armazenamento de energia e dos veículos elétricos. Esse é o foco e a principal contribuição deste livro, fruto de um projeto de P&D estratégico, que foi uma iniciativa do Instituto ABRADEE da Energia e da APTEL, a qual foi acolhida pela ANEEL e transformada na Chamada de Projeto de P&D Estratégico 011/2010. Com a convicção de que estamos dando um passo importante para a inserção definitiva do setor de energia elétrica na chamada economia do conhecimento, desejo a todos uma boa leitura!