O amor é um mendigo, um mendigo inspirado. Mendigo porque muita coisa lhe faz falta. O amor é carente, não combina com saciedade. De fato, quem ama busca, pede, implora, se for necessário. Um amante está sempre atrás do que ainda lhe falta, não se conforma com a sua condição, move céus e mares para ter o que quer, dá tratos à bola para possuir o que ainda não é seu. Inspirado, porque no amor o amante apresenta o melhor de si. Se não, o mais autêntico ao menos. Só o amor vence a acomodação, a mesmice, a segurança medíocre. Por amor, vai-se além do protocolo frio, que obriga desobrigando; da norma que deixa quase tudo feito; do hábito, que manda repetir sem pensar. Por amor, inventa-se e reinventa-se, cria-se e recria-se. Com a coragem de quem abre mão de ser alguma coisa para poder viver como for preciso. Mendigo inspirado, portanto.