O genocídio nazista foi uma das grandes catástrofes que marcaram o século XX. Entre os grupos perseguidos e assassinados estavam os homossexuais. Após o final da guerra, devido às leis que ainda estavam em vigor contra eles, os que sobreviveram não puderam prestar seu testemunho e contar o que havia passado nesse período. Isso só foi possível décadas depois, quando tais leis deixaram de existir e os homossexuais passaram a ter mais visibilidade, sendo, assim, possível falar. Um importante testemunho desse grupo é a autobiografia de um sobrevivente francês, Eu, Pierre Seel, deportado homossexual (Cassará Editora, 2012), estudada neste livro. Em sua obra, podemos vislumbrar as principais características desse tipo de narrativa testemunhal, como, por exemplo, a questão da denúncia e da violência sofrida. No entanto, sua homossexualidade traz algumas diferenças. Uma delas é a distância temporal entre o evento e a escrita. Passados muitos anos após o fim do regime, sua narrativa não só faz uma denúncia ao sistema nazista, como também ao período pós-guerra. Em sua autobiografia, narra a dificuldade enfrentada pelos homossexuais ao longo dos anos e a dificuldade de reconhecimento desse grupo como vítima do regime de Hitler.