Em Da queda enquanto voo, este livro de estreia cheio de vertigens, Adriana Massocato começa seu primeiro verso com um mar em sua frente, mas sem saber nadar. Esse poema inaugural, uma espécie de introdução às quatro partes que compõem a obra, parece indicar o que encontraremos a seguir: um sujeito carregado de desejos que deve se encontrar, circular e pertencer a um mundo imperfeito, ao mesmo tempo em que se faz poeta, aprendendo a caminhar sobre as águas. A palavra caminho, aliás, não apenas intitula uma das partes do volume, mas é central em toda a obra. O eu lírico (pessoa ou poeta) em construção busca a própria feitura durante o caminhar, no voo e na queda, já que na queda também nos constituímos, é das quedas que se fazem os voos. É a partir desse salto no vazio, então, que Adriana se torna poeta, que desatina a escrever cartas aos pombos e aos intérpretes. Nas duas primeiras partes desse percurso, Muda e Fundo, a poeta se lança aos nascimentos, à infância como (...)