Estreito de Berlin, de Maurício Palma, sugere já em seu título a atmosfera de confinamento que conjura a poesia, aqui sempre em busca da claridade. Grafando com “n” o nome Berlin, o autor anuncia ainda a experiência do exílio e da angústia linguística por ela gerada. O uso da língua alemã, aliás, é recurso poético que convida o leitor a sentir o despaisamento que sofrem os imigrantes – os turcos são constantemente evocados –, mas também o poeta em sua peleja com uma gramática incapaz de dar conta de seu grito. A obra se inicia no subterrâneo, nas minas, ambiente de clausura, e se encerra ao ar livre, sob o céu de São Paulo. A luz é chamada ao longo de todo o livro, pela frase recorrente: “até pensei em sequestrar aquela luz que saía…”, inserida em meio a uma atmosfera urbana e sufocante, com sua vida noturna povoada de vícios, de amor, de morte.