Permeado por um misticismo agnóstico e anárquico, o penúltimo romance de Campos de Carvalho, A chuva imóvel (1963), é seu momento mais poético e filosófico. Trata-se da história de André Medeiros e sua irmão gêmea, Andréa, que nutrem um amor que beira o incesto. Após as mortes do irmão e do pai, André traça uma claustrofóbica descida até seu inferno interior, no qual acaba por travar uma batalha com o Diabo - ou, nas suas palavras, - a Coisa". O humor nonsense de A lua vem da Ásia (1956), sua primeira obra-prima, que se manteve de forma mais sombria no romance seguinte, Vaca de nariz sutil (1961), assume em A chuva imóvel uma forma ainda mais densa e lúgubre, porém sem nunca deixar de transparecer o estilo marcante do autor. Para Carlos Heitor Cony, que assina as orelhas, "A chuva imóvel marca o melhor momento da obra de seu autor. E mais: é um livro que honra toda a literatura brasileira. O protesto de Campos de Carvalho contra as bombas nucleares, as partículas de estrôncio, o esfacelamento de placentas gêmeas, a morte, os cheiros, os miasmas - tudo a compor, pesada sobre cabeças ocas, a chuva imóvel do nosso tempo - é muito mais que um simples testemunho: é uma confissão. ‘Esta chuva imóvel serei eu que estarei cuspindo.’ Essa não é apenas a última frase de seu romance. É o primeiro grito de revolta de todo um tempo, de todo um homem. E esse homem não é apenas Campos de Carvalho. Somos todos nós."