A tradição antropocêntrica da ética ocidental tornou-se incapaz de re­solver os grandes dilemas morais oriundos do progresso da civilização científico-tecnológica. O advento da pós-modernidade, com suas in­certezas e perplexidades provocadas pelas teorias científicas abalado­ras da visão que o homem tinha do mundo e de si mesmo, alterou substancialmente a forma como nos relacionamos com o meio ambiente. A estes fatores somam-se os extraordinários progressos da pesquisa científica, sobretudo nas áreas da física quântica, da engenharia genéti­ca e da nanotecnologia. Se o paradigma ético da modernidade, erigido a partir dos postulados da mecânica clássica e inspirado largamente nas categorias de Descartes, Bacon e Kant, concebia a relação homem-na­tureza como uma relação de dominação, produzindo a separatividade entre homem e natureza, sujeito e objeto, corpo e alma, mente e es­pírito, ser e dever ser, a crise da epistemologia cartesiano-newtoniana tem conduzido a uma nova visão de mundo, a uma nova cosmologia, mais sistêmica e menos fragmentária. O desenvolvimento científico-tecnológico está a revelar cada vez mais a complexidade dos sistemas vivos e das suas relações. A filosofia não pode ficar alheia a estas novas configurações do saber. Isto põe a exigência de uma ética universal e solidária que se estabeleça também no domínio da pesquisa científica, adequada à civilização tecnológica e nascida a partir do diálogo entre as diversas formas de conhecimento, já que as tecnologias advindas da pesquisa estão afetando significa­tivamente o nosso meio ambiente, pondo em risco a subsistência da biosfera. É nesta perspectiva que se situa a ética da responsabilidade, de Hans Jonas.