Esse sétimo volume de Escritos sobre a Liberdade enfrenta o escandaloso paradoxo, ainda presente mesmo nos Estados democráticos, de um sistema penal que tem na prisão o seu centro, de um poder punitivo que se exercita através da anulação do direito fundamental à liberdade de locomoção. A subsistência da prisão demonstra o quanto ainda é preciso avançar na construção de um mundo em que a liberdade e os demais direitos fundamentais de todos os indivíduos sejam efetivamente concretizados e usufruídos. Nitidamente revelando a violência, a danosidade e as dores provocadas pelo exercício do poder punitivo, a pena privativa de liberdade decerto desaparecerá, mais cedo ou mais tarde. No futuro, não importa quando, libertados dos lugares comuns dos enganosos discursos que pretendem sobrepor a segurança à liberdade, a ordem e o poder à dignidade e à vida de seres humanos; libertados da perversa e inútil opção pelo castigo; libertados das sinistras fantasias sobre o sistema penal; libertados de muros e de grades, nos espantaremos, repudiaremos, teremos dificuldade de imaginar o fato de que o ainda hoje tolerado poder conferido ao Estado de encarcerar, de eliminar a liberdade do indivíduo, tenha, um dia, podido conviver com as idéias de democracia e direitos fundamentais. - Maria Lúcia Karam