A educação, como prática social, expressa os conflitos entre o trabalho e o capital no processo de implantação da escola como instituição destinada à formação intelectual dos trabalhadores. Portanto, a história da educação brasileira foi construída sob os ditames das lutas travadas pelo acesso à educação formal e escolar ainda que sob o modelo burguês vigente na sociedade capitalista. Faz sentido, portanto, retomar o impacto que as postulações da ditadura militar tiveram sobre a educação brasileira, como aquelas de que se ocupa o presente livro, pondo em destaque questões que se fazem presentes, ainda hoje, no nosso sistema educacional. Os autores tomam como objeto de análise a implantação da Reforma do Ensino, proposta pela Lei 5692/71, no município de Guarapuava/PR, no decorrer da década de 1970, com o intuito de compreender os resultados dessa perspectiva educacional na relação com o mercado de trabalho do referido município paranaense. Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos, a rica e elucidativa recolha dos relatos de professores, técnicos educacionais e alunos, bem como o acesso aos periódicos publicados à época permitiram a recomposição e análise dos dados referentes à relação entre trabalho e educação no município de Guarapuava, sob a égide da Lei n.º 5692/71. Os autores oferecem aos leitores um trabalho bem escrito que expõe com clareza as estratégias coercitivas próprias do regime militar e o impacto sobre as relações internas à escola, elucidando a problemática vivenciada pelos professores, pelos alunos e pela sociedade guarapuavana, de modo geral. Trata-se de um trabalho de rara fecundidade resultante de uma leitura rigorosa e atenta das fontes históricas e suas vozes mais expressivas. Mas o livro não se perde em uma apreensão maniqueísta dos fatos e dos indicadores coletados, mas instiga a reflexão calcada nos problemas atuais e nos processos de resistência que ainda se impõem diante das relações sociais de produção capitalista.